Para começar 2020 acelerando em direção ao futuro, convidamos o nosso CEO, Marcel Pratte, para trazer a sua visão sobre a transformação que estamos vivendo e os desafios que ela traz para o mundo dos negócios
A tecnologia está transformando as nossas vidas. Hoje, somos consumidores cada vez mais exigentes e empoderados, fazendo com que as empresas mudem não só meios técnicos de operação, mas também o mindset de controle e tomadas de decisão dentro das corporações.
Para começar 2020 acelerando o futuro, convidados o nosso CEO, Marcel Pratte, para trazer a sua visão sobre esse processo e quais desafios ainda precisamos enfrentar em meio a esse processo de transformação cultural do ser humano. Confira.
1. Conte um pouco da sua trajetória no mercado da tecnologia e como a Viceri se inclui nessa jornada?
Eu fiquei pouco tempo no mercado corporativo antes da Viceri. Trabalhei na Ericson, Telesp, e algumas outras empresas em um período de basicamente 4 anos. Logo depois fui convidado para ser sócio minoritário de uma empresa de tecnologia, onde comecei a minha carreira de empreendedor. Depois de 3 anos, saí de lá para fundar a Micromídia, em 1990, que veio a se transformar na Viceri.
A Viceri é uma Tech Company, uma empresa de tecnologia que nasceu ofertando serviços de desenvolvimento de software e criação de produtos em uma época que tudo estava começando. Era o início do downsizing, ou seja a utilização de microcomputadores por todas as empresas e não só as instituições grandes. Assim, seguimos disponibilizando tecnologia para essas empresas. A minha história sempre foi muito próxima a da Viceri.
2. Como você vê as transformações que a tecnologia está provocando hoje no mundo?
Esse processo que chamamos hoje de Transformação Digital, na verdade, é muito mais uma transformação cultural do mundo. Em geral, “Transformação Digital” gera uma confusão, pois parece que é a transformação da tecnologia. Mas a tecnologia é apenas um meio em que a população está vivendo essa mudança.
Na verdade, a Transformação Digital é a transformação que nós, seres humanos, estamos passando. Nós somos pessoas digitais. Tudo que fazemos é através de um meio digital. Isso trouxe uma velocidade muito grande para o mundo e mudou consistentemente a nossa relação entre as pessoas e entre as empresas.
O nosso relacionamento hoje é via digital. Como consumidores, buscamos bons preços, qualidade total, excelência, velocidade, tudo tem que ser rápido e cômodo, em alguns casos não queremos nem sair de casa. Somos extremamente críticos. Se não estivermos satisfeitos, vamos para as redes sociais afetar a imagem da empresa.
Nós fomos empoderados. Antigamente, quem mandava eram os grandes conglomerados empresariais, eles ditavam as regras do mercado e como deveríamos consumir através das mídias de massa. Atualmente, esse jogo se inverteu. Nós influenciamos o mercado.
As empresas não estão preparadas para isso. Nós vivemos em uma velocidade exponencial e as empresas mudam em uma velocidade aritmética. As empresas não conseguem acompanhar.
Existe um gap nesse processo, uma distância entre uma coisa e outra. As empresas não conseguem acompanhar a Transformação Digital e todo esse movimento.
3. Como esse processo está afetando o mundo dos negócios?
Essa mudança ocorre com uma velocidade nunca vista antes. Além disso, muitas empresas têm uma cultura ligada a Revolução Industrial. Elas têm processos de controle, hierarquia, governança, burocracia e formas de trabalho não orgânicas. Isso faz com que as decisões sejam lentas e que as instituições se movam lentamente.
Isso não ocorre só nos negócios, vivemos e fomos criados nessa cultura. Tudo tem muito processo, pouca criatividade e muito controle desde a sala de aula. E se isso está enraizado nas pessoas, fica ainda mais evidente nas empresas.
Em decorrência disso, temos um grande crescimento da importância das startups. Elas são empresas menores, com uma velocidade muito mais rápida de adaptação. Por isso, elas estão entrando na cadeia de valor das empresas grandes de uma forma disruptiva e muito mais rápida.
A XP Investimentos por exemplo, mudou totalmente a forma de fazer investimentos no Brasil. E mesmo hoje, mesmo sendo uma empresa grande, mantém uma maneira mais orgânica de trabalho.
Outro exemplo é o próprio Airbnb. Antes, não era tão simples conseguir hospedagem, pois tínhamos que ligar e ficávamos na mão dos hotéis e das agências de viagem para conseguir bons preços e qualidade. O Airbnb entrou nessa cadeia de valor, transformou digitalmente esse processo, colocou a tecnologia para fazer as reservas a nossa disposição e mudou totalmente o mercado de viagem.
A Transformação Digital de cada empresa envolve mudanças fundamentais e abrangentes – a própria reinvenção de como ela opera. As empresas devem alinhar seus investimentos em modelos de tecnologia e negócios para alcançar, de maneira mais eficaz, os consumidores digitais em todos os pontos de contato e em todo o ciclo de vida da experiência do cliente.
4. Na sua visão, qual o papel do mercado de tecnologia nessa Transformação?
Tudo que a gente faz hoje é através de um meio digital. Então, a nossa indústria tem a missão de ajudar as empresas a se transformarem. Porém, em alguns aspectos, até as empresas de tecnologia são empresas do passado.
Naturalmente, nosso mindset proporciona mais preparação, mas muitas pessoas dentro das empresas ainda não estão preparadas para esse movimento. As áreas internas de TI e as empresas como a nossa, as Tech Companies, devem ajudar as empresas a preencher esse gap entre a mudança, a inovação e a velocidade exigida pelo mercado.
Atualizar sistemas, mantê-los operando e cuidar do legado ainda ocupa muito tempo dos profissionais, que não conseguem criar coisas novas.
5. Recentemente, a Viceri abriu o seu primeiro escritório no Vale do Silício. Qual a importância dele para o mundo corporativo hoje e no futuro?
No Vale do Silício, a cultura está totalmente alinhada com a Transformação Digital. Lá, as pessoas estão sempre questionando o status quo. Sempre pensam “Como posso fazer de uma forma diferente?” Eles entendem o consumidor digital e a cultura digital. As startups e os unicórnios estão lá.
Em 2015, cerca de 50% do financiamento total de capital de risco dos Estados Unidos aconteceu na região do Vale do Silício e São Francisco. Cerca de 51 novas empresas de tecnologia são lançadas todos os meses na área da Baía de São Francisco.
Além disso, o Vale do Silício tem uma diversidade muito grande. Aproximadamente 40% das pessoas não são americanas. Essa diversidade cultural faz com que não se pense em inovação focando apenas em um público. Tudo é feito pensando em vários tipos de consumidores, especialmente o consumidor digital.
O Vale entende o que é levar valor para o cliente. Eles prezam pela confiança. Sem confiança você é eliminado logo no primeiro ano. Eles atuam com alto desempenho, simplicidade, agilidade. Novas tendências e novas tecnologias surgem no Vale.
O Vale do Silício reúne cultura, inovação, empreendedorismo, alto desempenho. Todo o mindset que precisamos para fazer a Transformação Digital está lá. Nós da Viceri queremos trazer todo esse know-how para nossos clientes.
6. E o que essa Internacionalização representa para a Viceri?
Em primeiro lugar, não se faz mais nada com olhar local. Os recursos, tecnologias, pessoas e capital estão por toda a parte e precisamos estar inseridos nesse contexto. Temos um mercado gigantesco para explorar. A Viceri, seus produtos e serviços, devem competir em qualquer mercado.
Falando dos nossos produtos e novamente do consumidor digital, temos que ofertar produtos para o mundo, só assim teremos escala e atenderemos os anseios, principalmente de preço e qualidade, do consumidor. Outro ponto importante da nossa era, é que não fazemos mais nada sozinhos, temos que ter parceiros fortes para ampliar nossa rede de negócios. Lançar nossos produtos no Vale do Silício é um teste para saber se estamos preparados para essa globalização.
A outra coisa é abrir o mercado brasileiro para as empresas americanas. Em alguns eventos lá no Vale, eu constatei que o Brasil está fora do radar de expansão de muitas startups e empresas americanas. Elas olham mais para a Europa e a Ásia. Mas o Brasil tem um potencial gigante, está entre as dez maiores economias do mundo e nós podemos ajudar as empresas americanas a expandirem seus negócios aqui no Brasil.
7. Qual a sua visão do futuro para a Viceri?
Temos uma meta ousada de crescimento para os próximos anos e de conquistar um expressivo market share no mercado de TI. Neste ano, estamos preparando a empresa para expansão e possível captação de recursos através de investidores. Temos todo potencial para isso e a nossa área nunca esteve em um momento tão bom. As empresas precisam de uma Tech Company que as ajudem a se transformarem.
Também estamos prevendo um crescimento forte no nosso portfólio de produtos, incluindo alguns vindos do mercado americano para o Brasil. Além disso, temos investimentos em produtos próprios, feitos através de parcerias com startups, com foco em levar produtos inovadores para o mercado. Estamos abrindo, agora em 2020, a Viceri Capital, em que teremos investimentos nessas startups.
8. Como você vê o futuro da nossa sociedade a partir da Transformação Digital?
O mundo está mudando para caramba e isso traz muitos desafios. Tem um livro que explica bem essa mentalidade: Modernidade Líquida de Zygmunt Bauman. Hoje tudo é feito de fluidez. Antigamente tudo era sólido, era mais palpável. Hoje as coisas mudam muito mais rapidamente.
No mundo profissional, por exemplo, você não tem segurança para saber se sua profissão vai existir em quatro ou cinco anos, ela pode ser substituída pela tecnologia. A própria formação de novos profissionais tem muitas perguntas a serem respondidas.
Um advogado, por exemplo. Em um futuro próximo, todas as análises de contrato simples vão ser feita por Inteligência Artificial. Como vamos formar novos profissionais se o advogado júnior e o pleno adquirem experiência fazendo essas análises, que logo serão automatizadas? Teremos um desafio na formação de profissionais para o futuro, haverá uma transformação das profissões. Provavelmente, esses profissionais se especializarão em IA ou ciência de dados.
Esse é apenas um dos grandes desafios que temos pela frente. Com a Transformação Digital, cada vez mais vamos precisar de líderes que tenham autonomia e responsabilidade para fazer essa transformação seguir. Afinal, todo o processo é baseado em gente. Tudo é baseado em mudança de mindset e mudança comportamental.